segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Análise Sintática Avançada III - Palavras denotativas


Nesta edição da série de posts, a professora Lucienne Oliveira nos fala da dificuldade de classificar palavras deste tipo.

Como nos ensina o professor Celso Cunha, em nossa língua, algumas palavras passaram a ser classificadas como palavras denotativas, a maioria delas anteriormente classificadas impropriamente de advérbios - essa foi uma proposta do Professor José Oiticica, em seu Manual de Análise Sintática - 6ª edição, aceita pelos gramáticos. Contudo é uma classificação especial, pois que denotar já é uma propriedade das unidades léxicas, e foi aceita por falta de uma classificação mais adequada. Assim, o que denominamos palavras denotativas de situação são os já existentes na Nomenclatura Gramatical Portuguesa e classificados de advérbios de exclusão, de inclusão e os advérbios oracionais.

Exemplo 1:
"Tudo na vida engana, até a glória."
Observem que a palavra "até", normalmente classificada como preposição, com valor semântico de aproximação a um limite dado, não o tem nessa oração, mas, sim, o de inclusão.

Exemplo 2:
"Até eu fui barrada no baile."
A frase está absolutamente correta, apesar de jamais podermos, antes dos pronomes eu e tu, colocarmos quaisquer das preposições. Mas, no caso, a palavra "até" é uma palavra com valor de inclusão e não de preposição.

Exemplo 3:
"Desculpe-me... mas você está se sentindo mal?"( A. Abelaira, O Nariz de Cleópatra, 40 - Comédia em três atos, 1962)
Qual o valor de adversativo da palavra "mas"? Nenhum. "Mas" tem um valor semântico de articular a oração seguinte em determinada ocasião, onde se interpela alguém numa situação pouco confortável, portanto também sem valor aditivo.

Exemplo 4:
"Afinal, quem é que vai pagar por isso?"
Observem que o vocábulo "afinal" e a locução "é que" não tem qualquer papel sintático possível, não fazem papel de advérbios, uma vez que não modificam nem verbo, nem adjetivo nem outro advérbio, ou seja: são de dificílimas classificação. Por apresentarem valor semântico, muitos professores ensinam a exclusão como possibilidade de classificação. Nesse caso, a meu ver, estão desprezando um valioso aspecto de construção morfossintático de nossa língua, importante muitas vezes à compreensão do texto. Particularmente concordo com professor Adriano Gama Kury, quando diz do aspecto perverso de exigirmos dos alunos, ainda que "concursandos", problemas da língua, que sequer são unanimidade entre nossos grandes gramáticos. O que aconselho aos meus alunos é aprenderem e bem entenderem os conceitos e as classificações morfossintáticas, isto é, as classes e seus possíveis papéis sintáticos.

Veja os outros posts da série:
"Eis que e Tomara que"
"Termos Vicários"

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