quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Analise sintática avançada II - Termos Vicários

Na segunda edição desta série de posts, a professora Lucienne Oliveira nos explica um fato sintático raro que pode se transformar numa excelente questão de concurso.

Você sabe o que é vigário?

Responder-me-ão que é qualquer coisa que tem a ver com Igreja, certo? Mas o quê? "Vigário", conforme o dicionário do professor Houaiss, é aquele que substitui outro; no uso religioso é aquele que é investido dos poderes de outro. Mas por que estamos "viajando na maionese", como se diz atualmente? Só prá introduzir o novo tópico de fatos sintáticos, pois que VICÁRIO vem de vigário.

O papel de vicário pode ser desepenhado por pronomes e verbos, entre outros. Vicário é o termo que se investe do sentido e da função sintática de outro, que não é repetido por vários motivos inclusive por economia verbal. Assim vejamos o seguinte exemplo: "E quando o vento acalma, é para saltar ao poente ou ao sul." (in "Lendas e Narrativas" de Alexandre Herculano).

Esse período apresenta três orações, pois a primeira que se inicia em "E quando..." e termina em "acalma". Trata-se de uma oração subordinada adverbial temporal. A segunda se inicia em "...para..." e termina em "...ao sul.". É uma oração subordinada adverbial final. E o verbo ser, que se apresenta entre uma e outra, que valor tem? Qual sua predicação?

Claro que não é verbo de ligação, porque período não apresenta predicativo; não é verbo auxiliar, já que não temos locução verbal e também não se apresenta como verbo intransitivo, como sabemos que pode sê-lo. Então, como analisá-lo?

Em tais situações o verbo ser está se apresentando como vicário, ocupando o lugar de "acalma". Reconstruindo o período teremos: "Quando o vento acalma, acalma para saltar ao poente e ao sul": desse modo o verbo ser no período será sintaticamente analisado como oração principal.

Aguardem mais exemplos de termos vicários.

Veja aqui o primeiro post da série: "Eis que e Tomara que"

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Prosódia (ou, usando o acento no lugar certo)

As novas regras sobre acentuação gráfica do acordo ortográfico - cujo prazo para utilização oficial é de dezembro do ano que vem - falam em palavras proparoxítonas (todas serão acentuadas), paroxítonas (acentuadas as terminadas em – L, -N, -R, -X, -PS, -Ã(S), -ÃO (S), -I(S), -U(S), -ON(S), -UNS, - EI(S) e em ditongos orais crescentes) e oxítonas (acentuadas as terminadas em –A(S), -E(S), -O(S), nos ditongos abertos -ÉI(S), -ÉU(S) e -ÓI(S) e, nas com mais de uma sílaba, terminadas em –EM e ENS). Mas... como saber a qual destas classificações pertence uma determinada palavra?

Recordando para quem precisa:
  • Proparoxítonas ou Esdrúxulas - são as palavras com acento na sílaba que fica imediatamente antes da penúltima sílaba, como em "cédula" e "veículo";
  • Paroxítonas ou Graves - são as palavras com acento na penúltima sílaba, como em "açúcar" e "menina";
  • Oxítonas ou Agudas - são as palavras com acento na última sílaba, como "avós" e "amar".

A gramática divide os vocábulos em função de sua tonicidade, isto é, de onde ocorre a sílaba de maior força na voz, quando dizemos uma palavra.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Você sabe o que é um "erro Crasso"?

Busto de Crasso no Louvre
Marco Licínio Crasso (em latim: Marcus Licinius Crassus Dives), que viveu circa 115 a.C. a 53 a.C., foi um patrício, general e político romano do fim da Antiga república romana, mais conhecido como "Crasso, o Triunviro". Em meio a diversas batalhas, que ganhou e que perdeu, em novembro do ano 55, Crasso abandonou a Itália para se dirigir à sua nova província, onde prepararia uma grandiosa expedição contra o império parto. No mês de junho de 53 a.C., o exército de Crasso foi massacrado na Batalha de Carras frente à superioridade da cavalaria inimiga. Mais de 20.000 soldados perderam a vida e cerca de 10.000 foram feitos prisioneiros. A cabeça e a mão direita de Crasso foram levadas ao rei parto, Orodes II.

Nesta batalha Crasso cometeu uma série de falhas grosseiras. Confiou demais na superioridade numérica de suas tropas, abandonou as tradicionais táticas militares romanas e, na ânsia de chegar logo ao inimigo, atacou cortando caminho por um vale estreito, de pouca visibilidade. As saídas do vale foram ocupadas pelos partos e o exército romano foi dizimado. Estes equívocos passaram à história através da expressão "erro crasso", que remete a uma falha grosseira de planejamento com consequências trágicas.

Daí, para que você não cometa erros crassos na grafia das palavras - dentro e fora da internet - segue mais uma listinha de erros ortográficos que vêm se repetindo com cada vez maior frequência...
  • NADA A VER - a expressão, muito utilizada como gíria, caiu nos domínios da internet com a grafia "nada haver". Certamente, se "aquele livro não tem nada a ver", por exemplo, significa que ou ele não tem nada semelhante, nada parecido, com alguma outra coisa, ou seja, não tem fatos em comum. A grafia incorreta envolve o verbo "haver" em algo que não tem nada a ver com ele...
  • DE REPENTE - a expressão une a preposição "de" com a palavra "repente", significando algo inesperado ou que acontece de forma súbita. A palavra "derrepente" não existe.
  • INTERESSAR - como seu substantivo, "Interesse", é grafado com a letra "I" em seu início e não com a letra "E". "Enteresse" e "Enteressar" não existem.
  • MAS e MAIS - a conjunção "mas" é utilizada quando se deseja contrapor uma ideia, fazer uma ressalva, como em "eu estava em casa, mas não atendi ao telefone". Já o advérbio "mais" é utilizado quando se faz uma comparação, ou quando se indica quantidade, como em "ela não é mais bonita que a outra", ou como em "quero mais açúcar".
  • CONVERSAR - como seu companheiro ali de cima, o verbo vem de seu substantivo, "converSa", é grafado com a letra "S" e não com cedilha - "converÇar".

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Erros graves de ortografia na internet

James Bond, agente a serviço da Inglaterra não tinha nada a ver com a gente...
Em qualquer pequena "navegada" na internet encontramos vários, diversos erros de grafia de palavras as mais simples. O que está havendo com o conhecimento básico da língua portuguesa, nos perguntamos. É simples atribuir à escola as falhas, mas será que as pessoas andam lendo o suficiente? Claro, a leitura de textos cujos autores conhecem bem sua língua... Mas, para não nos estendermos, vamos destacar neste post alguns erros encontrados diariamente na linguagem escrita de muitos, muitos internautas. Infelizmente, a maioria jovens que estão nas escolas e também dos chamados "concurseiros", que deveriam saber escrever muito bem.

  • ANSIOSO - a palavra vem de ANSIEDADE e portanto não há porque grafá-la com C como temos encontrado ("anCioso");
  • COM CERTEZA - trata-se de uma expressão composta pela preposição "com" com a palavra "certeza" - não existe a palavra "concerteza";
  • A GENTE e AGENTE - a primeira é uma expressão usada quando se quer falar "da gente", a nosso respeito. A segunda vem do verbo AGIR, e significa "aquele que age" (lembra do "agente secreto"?). Logo, quando desejar falar de um grupo, separe o A do GENTE;
  • INCOMODAR - o verbo vem do latim "incommodare" e se refere a "causar INCÔMODO", logo, não existe a palavra "encomodar";
  • LAZER e LASER - o primeiro se refere ao divertimento, entretenimento, a diversão que se aproveita durante um determinado dia ou período. Já o laser é uma sigla em inglês que significa "Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation", trocando em miúdos, o conhecido raio laser, usado em uma série de aplicações na medicina, na indústria e engenharia.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Análise sintática avançada I

A partir de hoje, periodicamente, publicaremos fatos sintáticos de interesse para análise avançada de situações que podem se transformar em questões complexas de concursos públicos. Elaborados pela professora Lucienne Oliveira, do Curso GAPP, são verdadeiras sutilezas de nossa língua a serem estudadas e apreciadas.

"EIS QUE e TOMARA QUE"

Ambas as palavras, "eis" e "tomara", com valor interjectivo - isto é, valor de interjeição -fazem o papel de oração principal, tendo como objeto a oração introduzida pela conjunção integrante que. Assim, em:  "tomara que chova seis dias sem parar..." e em "eis que ele volta", analisaremos eis e tomara como orações principais e as introduzidas pelo "que" (conjunção integrante), como orações subordinadas substantivas objetivas diretas, conforme nos ensina o professor Adriano Gama Kury.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Novas turmas: exercícios e redação

Estamos iniciando quatro novas turmas, confira:

  • Turma de exercícios com provas de língua portuguesa da CESPE - com foco para o concurso do TJ do Rio de Janeiro - aos sábados das 9 às 12h
  • Turma de exercícios com provas de língua portuguesa do NCE - com foco para o concurso do Ministério Público do Rio de Janeiro - aos sábados das 14 às 17h
  • Ambas com no máximo dez alunos
  • Redação - às quartas feiras das 18 às 21h e às quintas feiras das 9 às 12h - turmas especiais com no máximo quatro alunos.

Reserve já sua vaga através do telefone (21) 9326-0283 ou de nosso e-mail: cursogapp@gmail.com

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Dicionário: um aliado pouco compreendido

No post anterior falamos sobre a semântica, isto é, conhecer o significado das palavras. Ao longo dos anos escolares lemos diversos textos e livros de onde surgem questionamentos e diversos exercícios. Um dos tipos mais explorados é o de identificar o que o autor quis dizer em determinada frase ou parágrafo. Não nos referimos à interpretação de textos, mas sim a pequenos trechos, onde é fundamental que se conheça as palavras que o compõem de forma a compreendê-lo. Muitas questões de vestibulares e concursos são feitas nesta base de modo que o candidato prove que conhece seu idioma.

É por isso que a leitura é fundamental: ler materiais indicados pelos professores nos abre infinitos caminhos e colabora para a formação de um vocabulário mais rico, além de nosso conhecimento sobre diversos assuntos. Importante frisar que, quem gosta de ler, sempre ganha mais do que quem não gosta, pois se expõe a diversos tipos de informações e novas palavras. Quanto a este ponto, gostaríamos de destacar um aliado que poucos se dão conta da importância: o dicionário. Ao ter dúvida sobre o significado de uma palavra, ou quando se encontra uma palavra nova, consultar o dicionário é o ideal: nele, além do uso corrente de uma palavra também são sugeridos sinônimos e explicadas outras situações onde tal vocábulo pode surgir. Consultar o dicionário só agrega mais informação a quem está procurando desenvolver seu conhecimento da língua e sua capacidade de entendimento. Não tenha vergonha ou medo de utilizá-lo: você vai ver como ele pode ajudá-lo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Semântica

Muitas questões em concursos públicos envolvem a semântica, ou seja, o siginificado das palavras em frases ou períodos, de modo que o candidato os identifique em uma lista de sinônimos. A semântica resulta de dois elementos indissociáveis: o primeiro - audível e perceptível - envolve dimensões físicas, isto é, vibrações sonoras e aspectos psicológicos, e é chamado de significante. O segundo "trata-se do conteúdo do signo ou de uma expressão enquanto dado numa determinada língua", conforme o linguista Eugenio Coseriu.

Veja este exemplo com o significante "VELA":

"Velas enfunadas, os barcos enfeitam a paisagem da Baía de Guanabara. Ao longe, o Cristo Redentor vela pela sorte dos cariocas".

No primeiro uso, "velas" se referem ao modo de propulsão dos barcos. No segundo uso, "vela" torna-se sinônimo do verbo "cuidar", flexionado na terceira pessoa do singular do presente do indicativo ("...Redentor vela...").

Fonte: "Por Dentro Das Palavras Da Nossa Língua Portuguesa"
Domício Proença Filho

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um pouco sobre sintaxe

A palavra "sintaxe" vem do grego "syntaxis" e significa "arranjo", "disposição", "organização", e é exatamente este o sentido que mantém em português como a parte da gramática voltada para o estudo das relações da palavra na frase.

A concordância implica na adaptação de um termo às variações de outro, ou seja: adequar os adjetivos, pronomes, artigos, entre outras classes de palavras, a concordarem com os verbos. A falta de concordância é um dos problemas mais agudos e comuns que observamos na atualidade. Portanto, bastante atenção ao estudo desta parte da gramática.

Já a regência envolve os nomes (regência nominal) e os verbos (regência verbal). Esta última pode ou não conduzir a mudança de sentido do verbo. Dois exemplos:

1 - "Este assunto vai interessá-lo" ou "Este assunto vai interessar-lhe - qualquer das formas é valida;

2 - "Eu aspiro a um emprego" - aqui você diz o que deseja (um emprego);
"Eu aspiro o cheiro que vem da cozinha" - aqui você apenas saboreia o odor.

Fonte: "Por Dentro Das Palavras Da Nossa Língua Portuguesa"
Domício Proença Filho